Opinião: Amamentação e o encontro com a própria força

Precisamos acolher as mães e, mais do que isso, puxar para todos nós o dever de apoiar e dar suporte

Por Bruna Sepúlvedra*

A campanha Agosto Dourado surgiu com o intuito de debater ações mundiais de conscientização. E essa palavra “CONSCIENTIZAÇÃO” foi o pilar norteador de campanhas que falavam incansavelmente dos benefícios do aleitamento materno, reforçadas ainda mais no mês de agosto.

A cor dourada faz referência ao padrão “ouro” de qualidade do leite materno. Isso porque esse alimento é completo para o bebê até seis meses de idade, oferecendo todos os nutrientes necessários, sem alérgenos que podem conter em fórmulas infantis.

Mas o que precisamos entender de uma vez por todas é que amamentar vai muito além de informação, ou a falta dela. Todas as leituras trazem benefícios do leite materno, que uma pega correta da mama, ajuda no sucesso da amamentação e a não machucar o seio. A boca do bebê deve envolver a aréola e não só o bico do seio, boca em formato de “boquinha de peixinho”.

Nos ensinam que não precisamos passar nada, salvo o próprio leite para cicatrização do mamilo e que não existe leite fraco. O que não encontramos facilmente em leituras é que amamentar requer coragem em meio a um puerpério onde oscilações hormonais te deixam em um estado de extrema vulnerabilidade.

E todo esse acúmulo de informações cai por terra quando você se depara com uma pega perfeita do seu bebê e ainda assim sente DOR. Afinal de contas é um mamilo que ficou guardado por um bom tempo e agora é estimulado a cada hora. O leite materno não vai cicatrizar seu mamilo ferido, você precisará buscar ajuda.

A máxima ‘não existe leite fraco” desmorona quando o profissional de saúde que atende seu bebê fala que ele não ganhou X gramas por dia e você se depara com a prescrição de um complemento (é mais prático). E por fim toda uma rede familiar condicionada a acreditar mais em uma indústria do que no nosso CORPO.

Portanto, aqui é um chamado de uma mãe, profissional da saúde que passou por um puerpério e amamentou exclusivamente até 6 meses e ainda seguimos. O chamado é para uma REVOLUÇÃO. Precisamos de forma urgente de campanhas voltadas para a comunidade. Desconstruir e retirar a responsabilidade de manter um bebê bem alimentado e saudável, único e exclusivamente da mulher.

Onde estão as redes profissionais de SUPORTE? Visitas domiciliares periódicas de consultoras de amamentação? Porta aberta nas unidades básicas para resolução de dores e intercorrências relacionadas ao aleitamento materno? Treinamento da rede de apoio (familiares) pelos profissionais de saúde?

Precisamos acolher as mães e mais do que isso, puxar para todos nós o dever de APOIAR E DAR SUPORTE (incentivo e informação não serão suficientes). Precisamos de políticas públicas que favoreçam amamentação e retorno ao trabalho. Somos um país de campanhas para o aleitamento exclusivo até o sexto mês e só damos 120 dias de licença maternidade (salvo órgão públicos), não temos creches vinculadas as redes de trabalho e nem possuímos espaços nos setores e serviços para ordenha e armazenamento de leite.

Amamentar é trabalho. E trabalho suado, árduo e em tempo integral. Sem pausas para um café. E sem fim de expediente às 18 horas. Amamentar também é um trabalho solitário, onde renunciamos à nossa vida social e muitas vezes não conseguimos ficar na sala do bate-papo que está delicioso. O trabalho nos chama. Não dá para ficar na mesa do social, ou na conversa da sala que está deliciosa… o trabalho nos chama. Somos mães e precisamos de Aldeias.

Portanto, finalizo esse texto com a palavra inicial desse artigo. Agosto dourado é um mês de CONSCIENTIZAÇÃO… Para quem?

  • Texto publicado originalmente em Portal Clube News.

* Bruna Sepúlvedra é enfermeira obstétrica, especialista em parto humanizado e amamentação, mãe da Ester e membro da Câmara Técnica de Saúde da Mulher do Coren-PI.

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