Crise é oficialmente declarada como encerrada
Depois de pouco mais de três anos, trilhões de dólares em perdas e milhões de mortos, a emergência internacional causada pela covid-19 chega ao fim, uma data que entra para a história recente da ciência e do mundo.
Nesta sexta-feira, a OMS anunciou que seus especialistas chegaram à conclusão de que o vírus não representa mais uma ameaça sanitária internacional e que, portanto, a crise é oficialmente declarada como encerrada. Pelas regras da agência, não existe uma declaração oficial do final da pandemia.
Michael Ryan, diretor-executivo da OMS, explicou que a emergência acabou. “Mas a ameaça não. A batalha não acabou”, disse. “O vírus continua a contaminar. Levou anos para que a pandemia de 1918 terminasse”, afirmou. “Na verdade, a história mostra que uma pandemia só termina quando outra aparece”, insistiu.
A crise que abalou famílias, sonhos, economias e projetos foi a maior pandemia em cem anos. Mas segundo o diretor-geral da agência, Tedros Ghebreyesus, o anúncio não significa que o vírus desapareceu. Hoje, a cada três minutos, uma pessoa ainda morre pela doença. Para ele, portanto, governos precisam fazer uma transição para uma normalidade. Mas sem abandonar o monitoramento da doença e sem desfazer os investimentos que foram realizados.
“Uma das grandes tragédias é que não precisa ter sido assim”, disse Tedros, denunciando o fracasso da comunidade internacional. “Perdemos vidas que não precisavam ter sido perdidas”, insistiu. “Precisamos prometer a nossos filhos e netos que não voltaremos a fazer esses erros”, disse.
A emergência havia sido declarada no final de janeiro de 2020, quando pouco mais de cem casos tinham sido registrados e casos sequer tinham oficialmente chegado às Américas. Nenhuma morte havia sido oficialmente declarada.
Hoje, os cálculos apontam que cerca de 20 milhões de pessoas morreram desde aquele momento, com quase 800 milhões de pessoas oficialmente contaminadas.
O vírus, cuja origem até hoje é fonte de mistério, foi responsável por uma explosão sem precedentes da pobreza e desemprego no mundo, desmontando 30 anos de avanços sociais. As perdas econômicas atingiram trilhões de dólares, enquanto a própria realidade política de diversos países foi profundamente alterada.
A covid-19 zombou de fronteiras, de ideologias e da postura de líderes supostamente “fortes” que se recusavam a aceitar a gravidade da crise. “Ninguém estava preparado”, disse Jarbas Barbosa, diretor-geral da OPAS (Organização Pan-americana de Saúde).
Ao longo de três anos, o vírus, a vacina, a ciência, as máscaras, os tratamentos, o isolamento social e até os sobreviventes foram politizados.
No Brasil, diante de um governo que adotou uma postura negacionista, a doença matou mais de 700 mil pessoas e o país esteve entre os locais de maior contaminação no mundo.
Se governos em várias partes do mundo já tinham encerrado a fase de emergência, a OMS ainda insistia que não era o momento de dar fim à declaração. O temor da instituição é de que, sem uma pandemia, governos vão reduzir investimentos e o monitoramento da doença, além do sequenciamento de amostras e a identificação de novas variantes.
Ainda assim, o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, decidiu seguir a recomendação dos especialistas e decretar o fim da emergência.
Atraso de um ano e vírus que não desaparecerá – O anúncio acontece com um ano de atraso, em comparação ao que a OMS esperava. Nos primeiros meses da crise, em 2020, a previsão da agência era de que, até 2022, a pandemia perderia força. Mas, em 2021, a segunda onda da doença foi ainda mais violenta que a primeira. Já as vacinas, produzidas em tempo recorde, levaram meses para serem distribuídas aos países mais pobres.
Para a cúpula da OMS, essa concentração de doses nas mãos de poucos países no início da imunização foi um dos legados mais dolorosos da crise e um exemplo do fracasso da comunidade internacional.
Apesar de declarar o fim da emergência, a OMS deixou claro que a medida não significa que a covid-19 desapareceu. A entidade insiste que os sistemas de saúde terão conviver com a presença da doença e lidar com ela de maneira permanente.
Ao abrir o encontro nesta quinta-feira, Tedros afirmou que é “muito bom ver que a tendência de queda (de casos) continua”. “Em cada uma das últimas 10 semanas, o número de mortes registradas semanalmente foi o menor desde março de 2020”, comemorou.
“Essa tendência sustentada permitiu que a vida voltasse ao “normal” na maioria dos países e aumentou a capacidade dos sistemas de saúde de lidar com possíveis ressurgimentos e com o ônus da condição pós-covid-19″, disse.
“Ao mesmo tempo, persistem algumas incertezas críticas sobre a evolução do vírus, o que dificulta a previsão da dinâmica ou sazonalidade da transmissão futura. A vigilância e o sequenciamento genético diminuíram significativamente em todo o mundo, tornando mais difícil rastrear variantes conhecidas e detectar novas variantes”, alertou.
Segundo ele, as desigualdades no acesso a intervenções que salvam vidas também continuam a colocar milhões de pessoas em todo o mundo em risco desnecessário, principalmente as mais vulneráveis.
“E a fadiga da pandemia ameaça a todos nós. Todos nós estamos doentes e cansados dessa pandemia e queremos deixá-la para trás”, afirmou. “Mas esse vírus veio para ficar, e todos os países precisarão aprender a gerenciá-lo juntamente com outras doenças infecciosas”, completou.
Fonte: UOL Notícias